Sobre a importância de ter métricas

É um grande desafio criar métricas e indicadores para avaliar o desempenho de suas atividades – tanto na sua vida pessoal como no trabalho. Isso ocorre, em grande parte, pela falta de clareza sobre o que exatamente devem medir. Além disso, a incapacidade de realizar cálculos adequados também contribui para esse obstáculo.

Um exemplo ilustrativo pode ser observado ao considerarmos a conversa comum sobre o consumo de combustível em veículos. Frequentemente, as pessoas mencionam a eficiência do carro em termos de quilômetros por litro. Aí vem a questão: será que essa métrica é a mais apropriada? Certamente, se o objetivo for avaliar a eficiência geral do veículo ou entender como ela é influenciada pela escolha do tipo de combustível, essa métrica é valiosa.

Mas a maioria das pessoas não vai um passo além.

Ao buscar compreender o impacto direto nas finanças pessoais, talvez seja mais esclarecedor calcular o custo por quilômetro, que envolve a divisão do preço do litro de combustível pela eficiência do carro em quilômetros por litro. Imagine, por exemplo, um cenário em que o preço do combustível seja R$ 4,00 por litro e o veículo percorra 12 quilômetros por litro. Nesse caso, o custo por quilômetro seria de R$ 0,33. Agora, se você otimiza o desempenho do seu veículo para alcançar 15 quilômetros por litro, o custo por quilômetro diminui para R$ 0,27. Multiplique essa diferença monetária (R$ 0,06/km) por sua rodagem mensal – que vamos supor neste caso que seja de 1.000 km – e você percebe que, tirando um pouco o pé do acelerador, você economiza R$ 60,00. Isso te permite fazer mais do que somente saber se seu carro anda mais ou menos com um litro de combustível, mas evidencia claramente o impacto disso no seu bolso.

Esse tipo de abordagem proporciona uma visão mais objetiva e concreta, fornecendo números que capacitam tomadas de decisão mais embasadas. Ao adotar métricas mais refinadas e específicas, você ganha não apenas dados, mas também a capacidade de compreender e influenciar efetivamente o seu cenário operacional. É nesse refinamento analítico que reside o verdadeiro poder de decisão.

Vou contar algo que aconteceu comigo. Eu tinha crises muito frequentes e intensas de enxaqueca. Uma série de exames foram inconclusivos, e um dos médicos me falou que, tão importante quanto os exames, era monitorar meu dia a dia, talvez até anotando eventos do meu dia em uma espécie de diário. Foi o que eu fiz.

Passei a anotar um questionário bem completo, com informações sobre quanto sono, minha disposição ao acordar, como foi o caminho para o trabalho e o trabalho em si, como me alimentei, meu humor, quanta água ingeri, a intensidade dos episódios de enxaqueca (quando houve) e diversas outras perguntas.

Depois do período de acompanhamento, que foi de pouco menos de dois meses, examinei melhor os dias onde apontei alguma incidência de enxaqueca e vi eventos comuns entre esses dias. Consegui identificar que a relação entre sono, desidratação e jejum era algo determinante para crises mais severas. Mudei meus hábitos, e as crises diminuíram sensivelmente.

Portanto, se existe algo com o qual você não está satisfeito na sua vida pessoal ou no trabalho, procure medir tudo o que for possível e mensurável. Mais do que isso, analise os dados e vá além de simplesmente fazer inferências ou palpites sobre os por quês. Afinal, somos muito contaminados por consensos e conclusões fáceis, que muitas vezes escondem as respostas mais relevantes.